
Cristina Oldemburg

Cristina Oldemburg
Um dos destaque da FLISI 2019 – Festa Literária da Serra Imperial será o lançamento o livro “Chamado da Selva: correspondência entre Curt Nimuendajú e Herbert Baldus”, fruto de pesquisa e organização de Elena Welper, com tradução de Peter Welper e coordenação editorial de Cristina Oldemburg, diretora/presidente do Instituto Oldemburg de Desenvolvimento, que realizou a publicação. A obra tem projeto gráfico e editoração de Tatiana Buratta. O livro será lançado logo após a mesa “Da Literatura a Etnografia: Influência do Romantismo na Antropologia”, marcada para hoje, dia 2 de outubro, a partir das 17h, no Museu Imperial, com mediação de Leandro Cazes, tendo como convidados a pesquisadora Elena Welper e o antropólogo Roberto DaMatta, que faz o prefácio do livro.
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O livro resulta de um longo trabalho de pesquisa e tradução de manuscritos do arquivo Curt Nimuendajú, que fazia parte do Museu Nacional do Rio de Janeiro, que pegou fogo em setembro do ano passado e perdeu a valiosa coletânea de 90 cartas, ou seja, correspondências estabelecidas entre os dois maiores nomes da antropologia teuto-brasileira: Curt Nimuendajú e Herbert Baldus. Elas foram salvas e podem seguir para eternidade através de todo o trabalho de elaboração da obra “Chamado da Selva”, que teve início em 2016.
“Este material será pela primeira vez apresentado em língua portuguesa (as primeiras 50 cartas foram originalmente escritas em alemão), acompanhado de notas explicativas e precedido por um texto introdutório que oferece uma apresentação do material epistolar e de seus respectivos autores”, explica a organizadora Elena Welper.
“Nimuendajú foi muito além da investigação dos estilos de ser, viver e pensar que são alvo da Etnologia Indígena. Ele amava estar com grupos tribais que estudou e defendeu suas tradições com coragem inusitada. Manter a tradição tribal foi uma de suas preocupações, o que o colocou no lado avessos do antigo Serviço de Proteção aos Índios e das políticas destinadas a promover a integração ou a assimilação dessas coletividades a uma civilização que Curt via a desconfiança romântica no melhor estilo de J. G. Herder, F. Boas e R. Lowie que muito ajudou”, enfatiza Roberto DaMatta.
Paulo Knauss de Mendonça, diretor do Museu Histórico Nacional (MHN), unidade do Instituto Brasileiro de Museus, no Rio de Janeiro (RJ), ficou entusiasmado com a obra, não somente pela importância do registro dos dois grandes antropólogos que marcaram época, mas por guardar conteúdos valiosos de documentos que foram perdidos no trágico incêndio.
“A publicação deste livro nos permite recuperar parcialmente o que se perdeu no incêndio no que diz respeito ao Curt Nimuendajú, o que torna o “Chamado da Selva” uma referencia para o futuro e para as próximas gerações. Certamente a pesquisa do livro guardou outros documentos do Museu Nacional e, nesse sentido, esta obra se torna um bem cultural fundamental, não só para guardar a memória do Curt, mas do Museu como instituição de referencia da cultura de nosso país”.
O título “Chamado da Selva” foi extraído da carta de 21 janeiro de 1936, de Herbert Baldus para Curt Nimuendajú, e foi escolhido por aludir ao romance de Jack London (Call of Wildness, 1903) e evocar uma importante convergência entre as experiências etnográficas e as inspirações literárias desses dois pesquisadores.
“É com sentimento feliz de missão cumprida que o IOD – Instituto Oldemburg de Desenvolvimento chancela a edição deste livro, que documenta correspondências de dois importantes pioneiros dos estudos os índios brasileiros. Eu, como presidente do Instituto, realço a minha adesão irrestrita à causa da preservação da vida e da cultura dos nossos índios. A edição deste livro é uma ação de preservação deste patrimônio nacional, ameaçados pelos seus direitos a terra, às suas expressões culturais e à sua própria sobrevivência. As correspondências entre esses dois antropólogos são um tesouro educativo e cultural, agora entregue ao público brasileiro”, disse Cristina Oldemburg.
“A publicação da correspondência trocada entre Curt Nimuendajú e Herbert Baldus no âmbito da Flisi 2019, no Museu Imperial, aproxima, ainda mais, a literatura da antropologia, uma vez que o Palácio de São Cristóvão, que abrigou o Museu Nacional, e o Palácio Imperial de Petrópolis, sede do Museu Imperial, são referências do legado cultural e científico do cidadão d. Pedro de Alcântara”, acrescentou o professor Maurício Vicente Ferreira Jr., diretor do Museu Imperial de Petrópolis.
A programação completa da Flisi 2019 pode ser consultada no site http://flisi.com.br, onde também podem ser feitas as inscrições para participar das atividades.
Conheça mais sobre Curt Nimuendajú e Herbert Baldus
Consagrado por sua contribuição ao estudo dos índios do Brasil, o alemão e autodidata Curt Nimuendajú (1883-1945) é um dos personagens fundadores da antropologia brasileira. Ao longo dos 42 anos em que viveu no Brasil, ele prestou serviços às principais instituições indigenistas e científicas de sua época como, por exemplo, o Museu Paulista, o Serviço de Proteção aos Índios, o Museu Goeldi e o Museu Nacional. Foi autor de monografias que projetaram os povos indígenas do Brasil no cenário acadêmico internacional. Nas palavras de Darcy Ribeiro, um de seus maiores admiradores, “foi Curt que mais soube dos índios do Brasil e quem mais nos ensinou sobre sua mente e seu ser. A obra dele, sozinha, é maior e mais importante do que a soma de todos nós que fizemos etnologia antes e depois dele, até hoje em dia”.
Na história dessa disciplina Curt Nimuendajú ocupa uma posição de destaque como representante do período heroico, entre os 1920 e 1930, quando a profissão de antropólogo e o campo acadêmico ainda não haviam se institucionalizado.
Neste volume é apresentada a interlocução de Curt Nimuendajú com Herbert Baldus (1899-1970), outro nome fundador da antropologia brasileira, com quem manteve por mais de 10 anos uma intensa e sistemática correspondência, sem nunca terem se encontrado.
“Curt Nimuendajú e Herbert Baldus são personagens emblemáticos da história da antropologia brasileira. Enquanto os estudos de Curt Nimuendajú promoveram as pesquisas de campo e serviram de inspiração para toda uma geração de antropólogos que o sucedeu como, por exemplo, Roberto DaMatta, Eduardo Galvão e Darcy Ribeiro - os trabalhos de Baldus, mais dedicado ao ensino e divulgação científica, lançaram as bases para os estudos das sociedades indígenas em situação de contato e de mudança cultural, e foi fundamental para a divulgação e acessibilidade da etnografia alemã. Ambos tiveram muita importância para o desenvolvimento científico da disciplina, representando uma espécie de transição entre a tradição etnográfica alemã e a incipiente Etnologia Brasileira”, conclui Elewa Welper.
Detalhes das valiosas correspondências
As correspondências reunidas neste livro apreendem a última década de vida de Curt Nimuendajú, mas aborda uma grande variedade de temas e contextos etnográficos, pois as perguntas de Baldus incidiram sobre toda a produção de Curt Nimuendajú e exploravam todo o seu vasto conhecimento sobre fontes históricas e linguística indígena, bem como sua experiência com atividades arqueológicas e colecionistas.
As cartas dão notícias dos planos de trabalho, trazem discussão de dados e trocas de referências bibliográficas, mas também são ricas em confidências que revelam aspectos singulares da vida e obra destes dois pesquisadores, abordando as dificuldades financeiras enfrentadas pelos dois jovens imigrantes, o diálogo com missionários europeus das ordens Franciscana, Salesiana e Dominicana, e o idealismo romântico de suas etnografias.
“As cartas oferecem uma visão privilegiada sobre as condições de realização e produção da incipiente etnologia brasileira, visto que naquele tempo as cartas eram um importante meio de comunicação. Neste sentido esse material evidencia a influência de Nimuendajú na trajetória e produção intelectual de Baldus, mas também de outros pesquisadores daquele contexto, como Heloisa Alberto Torres, Eduardo Galvão, Charles Wagley, entre tantos outros”, frisou Elena Welper.
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